Benito Gonçalves
Garantido e Caprichoso fazem um verdadeiro giro pela religiosidade brasileira na terceira noite do Festival Folclórico em Parintins
CAPRICHOSO
Neste domingo (29), o Boi Caprichoso encerra a sua participação no 49º Festival Folclórico de Parintins com a apresentação de “Terra Brasilis”, último ato do espetáculo “Táwapayêra”, que levou ao Bumbódromo as diversas faces do misticismo amazônico.

Segundo o membro do Conselho de Artes, Gil Gonçalves, nesta última apresentação, o boi azul fará um passeio pelo sincretismo das diversas manifestações culturais brasileiras que têm na religião a sua fonte. O Caprichoso vai mostrar que, em cada um desses folguedos (incluindo o próprio boi-bumbá), existe a força de um povo que se reveste de cores, sons e cantorias.

Na Exaltação Folclórica, o boi da Francesa apresenta a “Festa de um Boi Brasileiro”, que trará uma alegoria para retratar a diversidade cultural do nosso País.

A história dos seres encantados que protegem os rios, lagos, paranás e cachoeiras é o universo explorado na Lenda Amazônia “Filhas de Yaci”. A alegoria traz as ninfas (Boiúna, Iara, Dinahi, etc.) que exercem o controle sobre as águas, através da sua beleza e canto, desorientando pescadores que, apaixonados, deslizam com as canoas pelo território delas.

Já “Pescador Amazônico” é a Figura Típica Regional que o Caprichoso levará para a arena neste domingo. O foco será o cotidiano do caboclo vulnerável à dinâmica do ritmo de enchentes e vazantes. O ponto alto promete ser o ritual “O Último Pajé”, de evocação a Hekuras, espíritos auxiliares dos pajés que sustentam o céu. A referência para este momento vem do Povo Yanomami, para quem o céu é sustentado por quatro grandes pajés e o demônio Shawara tem o poder de matá-los.

GARANTIDO
O Garantido nasceu da promessa de Lindolfo Monteverde a São João. Por isso, não foi à toa que a diretoria do boi do coração escolheu “Fé” como tema central para este ano. Para o fechamento da maior festa folclórica do Norte do País, o subtema explorado será “Brasil de Muita Fé”. Na apresentação, o campeão do centenário homenageará o negro, fundamental na formação da cultura brasileira.

A proposta será representar os segmentos culturais e religiosos que fazem parte do País, tendo a arena do Bumbódromo como palco. “É uma noite em que se falará muito das origens mais fortes do Brasil, que é a origem negra, a qual nos trouxe uma identidade forte na comida, na religião e na dança”, adiantou Chico Cardoso, coordenador de teatralização e coreografia da Comissão de Artes do Garantido.

“Da mesma forma que o índio e o branco foram determinantes na nossa formação, o negro também foi. Trabalhamos com essa tríade: o branco que escravizou e colonizou, e o índio e o negro que resistiram. No entanto, a nossa proposta é enfatizar a alegria, fé e esperança que temos”, acrescentou Fred Góes, coordenador da Comissão de Artes. Ao todo, quatro alegorias serão apresentadas nesta noite. Em “Brasilidade” (Celebração Folclórica) a nação vermelha e branca irá celebrar o amor e o orgulho do povo brasileiro, sua diversidade cultural, seus sentimentos e o patriotismo que forjaram a identidade do País.

“Naiá – Flor das Águas” (Lenda Amazônica) mostrará de forma poética a rica mitologia Tupiniquim, na qual acreditam os índios que a Lua era um guerreiro de luz e esplendor chamado Jaci, que vinha à terra em noites de Lua Cheia para desposar as mais belas índias e depois levá-las ao céu consigo, transformando-as em estrelas.

Apesar de ter um nome comum, “O vaqueiro” (Figura Típica Regional) mostrará como este desbravador da Amazônia se difere dos demais. Contudo, o grande destaque do Garantido certamente será o Ritual Indígena, chamado de “Couro dos Espíritos”, devido sua complexa e bela coreografia.

O ritual do povo Gavião Ikolen, natural do Estado de Rondônia, apresenta, por meio da narrativa dos índios mais velhos da tribo, a crença de que viver na floresta é difícil, uma vez que nela existem almas rebeldes que em noites sem luar invadem os corpos dos índios enfraquecidos, provocando-lhes males, como doenças que os levam à morte.

“Este ritual é de cura. Todas as enfermidades que estão acontecendo dentro da tribo fazem com que o pajé use vários couros de espíritos, das matas, florestas, entre outros, para acessar o mundo sobrenatural, onde ele terá que partir do uso dessas capas para lutar com seres sobrenaturais. Ele irá expulsar os anhangás (espíritos maléficos) para trazer paz e bonança para a tribo”, finalizou o coordenador de teatralização e coreografia. As três noites de espetáculo do Garantido custaram aproximadamente R$ 7 milhões para os cofres da agremiação da Baixa do São José.

Texto: a critica.com

Foto: Divulgação
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