Eles queimaram as alegorias usadas no festival deste ano, que encerrou no último domingo (29) (Euzivaldo Queiroz) |
Quatro pessoas foram detidas suspeitas de
incitarem a manifestação: um como suspeito de tacar fogo em uma alegoria, outro
por ser suspeito de atingir uma policial militar com um pedaço de madeira e
outros dois por incitarem o movimento. Todos eles reclamam por não terem
recebido dentro do prazo, até hoje, o salário de R$ 630 pelos serviços
prestados no 49° Festival, e mais R$ 200 atrasados do 48º Festival, em 2013.
Os kaçauerés, como são conhecidos esses
trabalhadores, primeiro queimaram primeiro pedaços de isopor dentro do Curral
do Garantido, na Cidade Garantido, na Baixa do São José, e depois seguiram
caminhando até a frente da casa do presidente do “Boi do Povão”, Telo Pinto,
que fica ao lado da Praça dos Bois, na concentração do Bumbódromo, onde estavam
alocadas as alegorias usadas nas três noites do festival.
Um dos homens detidos pelo 11° Batalhão da
Polícia Militar de Parintins teria sido confundido como um dos manifestantes,
já que o mesmo não estaria protestando, e sim estava próximo a uma alegoria
queimada porque tentava retirar uma bicicleta presa à peça alegórica. Todos os
detidos foram levados à delegacia para prestar depoimento.
“A população tem todo o direito de se
manifestar. O que a polícia não permite é que façam desordem”, disse o tenente
Aguinelson Tavares. Equipes de Bombeiros trabalharam para apagar as faíscas de
fogo nas alegorias e conseguiram encerrar o princípio de incêndio. Até o fim do
protesto, nenhum representante da agremiação Garantido se manifestou perante os
trabalhadores.
Os kaçauerés têm função primordial para a
realização do festival, já que sem eles as alegorias não seriam transportadas
para dentro da arena do Bumbódromo e nem desmontadas ao fim do espetáculo.
Alguns deles relataram ao jornal A CRÍTICA que estão com dívidas por conta do
atraso nos salários, sem alimentação em casa, e que ninguém do Garantido deu um
prazo para que o pagamento seja feito.
Desde às 10h desta terça (1°), eles tentaram
conversar com o presidente do Garantido, Telo Pinto, mas não obtiveram sucesso.
O diretor de segurança do Garantido, Júlio Nevaldo, o “Nicão”, informou ao A
CRÍTICA que Telo Pinto garantiu o pagamento dos salários até a próxima
terça-feira (8), às 16h, na Cidade Garantido.
Patrocínio
bloqueado
Para assegurar o pagamento dos salários dos
trabalhadores, o Ministério Público do Trabalho no Amazonas (MPT 1ª Região)
reteve 20% do valor total da cota de patrocínio repassada ao bumbá Garantido,
conforme assessoria de imprensa. O atraso nos salários é um descumprimento das
determinações impostas pelo MPT em relação à legislação trabalhista. Caso seja
necessário, o valor retido poderá ser usado para o pagamento de dano moral
coletivo.
O MPT assegurou que este valor também poderá
servir para o pagamento das diárias dos trabalhadores cuja mão de obra é
utilizada para o transporte de alegorias. O valor da diária para o festival de
2014 é de R$ 70, na forma do acordado, após o Festival Folclórico do ano
passado, por meio de aditivo de Termo de Ajuste de Conduta (TAC).
“É prática nessa associação o não pagamento
das verbas trabalhistas após o festival, pelo que, de forma preventiva, o MPT
entendeu pela necessidade do bloqueio dos valores, para resguardar os direitos
dos trabalhadores. O Garantido acumula inúmeras reclamações trabalhistas na
Justiça do Trabalho, reclamações essas feitas tanto por soldadores e pintores,
quanto pelos artistas de ponta, responsáveis pela confecção das alegorias”,
ponderou a procuradora do Trabalho Fabíola Bessa.
Em 2011, com intermediação do MPT, foi
incluído no contrato de patrocínio dos bois Garantido e Caprichoso com a
Coca-cola e o Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado
de Cultura, uma cláusula social contendo obrigações referentes a direitos
ambientais e trabalhistas como condicionante para a liberação dos recursos para
o Festival.
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